O Estado de São Paulo : 15.05.2017

Não olhe agora – ele é fugidio e pode escapar. Mas há indícios de que o crescimento econômico está de volta. Torturando as estatísticas, elas acabam confessando que o pior já passou. A produção industrial de março, por exemplo, cresceu 0,2% em relação ao mesmo mês de 2016. É uma merreca. Mas trata-se do primeiro indicador positivo depois de 36 meses consecutivos de queda. Para cada indicador positivo ainda é possível encontrar vários negativos. Mas até recentemente todos eram negativos. A recuperação será lenta e difusa. Não há nenhum polo de dinamismo que possa nos tirar rapidamente do buraco. Pelo lado do consumo, as perspectivas são limitadas, dada a combinação perversa entre alto endividamento das famílias e desemprego. Os gastos do governo não podem liderar a recuperação, porque já sabemos que isto não dá certo. As exportações sobem em dólares no acumulado de doze meses, mas quando convertidas em reais e deflacionadas mostram ainda uma queda anual de quase 12%. Investimentos privados caminharão a passo de cágado enquanto a capacidade ociosa for expressiva.

Mas não dá para fazer nada para acelerar a recuperação? Dá, o Banco Central pode reduzir mais as taxas de juros. Há várias razões para isto. O IPCA acumulado nos doze meses até abril caiu para 4,08%. É a taxa mais baixa desde julho de 2007. Os juros reais, por sua vez alcançaram neste mesmo período 9,02%, o nível mais alto desde junho de 2007. São juros excessivos, mesmo considerando o padrão histórico brasileiro. Na média dos últimos dez anos os juros reais ficaram em 4,6%. Custou muito caro jogar a inflação para baixo. A combinação entre juros altos, queda de gastos públicos e contração de crédito é algo que não se via há tempos – antes, o governo tentava compensar a elevação dos juros pelo Banco Central com aumento de gastos e expansão creditícia. O resultado foi a recessão mais profunda de que se tem registro. Não há porque insistir na terapia. Para os próximos 12 meses, o mercado financeiro estima ligeiro crescimento do IPCA , para 4,7%.  Não é preciso levar isto muito a sério. Em abril do ano passado, os mesmos economistas acreditavam que a inflação anual em abril de 2017 seria 6,2%. Erraram feio.

É possível derrubar os juros mais rapidamente porque a inflação já caiu bastante. Mas é também imperativo derrubar os juros porque esta é a única forma hoje de empurrar a economia para frente e assegurar algum crescimento em 2018. Isto é crucial. No Brasil, ao contrário do que ocorre nos EUA, o mandato do Banco Central é apenas cuidar da inflação. Mas isto não o proíbe de considerar que vivemos um ano de transição. Sabemos todos que o nível de emprego, a variável econômica que influencia mais diretamente o humor dos eleitores, só vai se recuperar mais adiante. O Brasil fechou 1,63 milhões de vagas com carteira assinada em 2015 e mais 1, 37 milhões no ano passado. No ritmo que vamos, deveremos ainda aumentar o estoque de desempregados em 2017 e recuperar parcialmente o emprego apenas em 2018, ano das eleições presidenciais mais importantes dos últimos tempos. Quanto mais crescermos agora, mais cedo se recuperará o emprego. Quanto mais alto o emprego, menor a probabilidade de sucesso de candidatos aventureiros e populistas que, diante dos efeitos colaterais das reformas estruturais, tentarão convencer o eleitorado de que existem soluções fáceis e indolores. O Brasil não merece ser ludibriado por uma nova rodada de ideias esdrúxulas. Não há motivo para não promover um corte significativo nos juros. Chegou a hora. 

Economista. Foi diretor de política monetária do Banco Central e professor da PUC-SP e FGV-SP. Email: luiseduardoassis@gmail.com